terça-feira, julho 13, 2004

O brega revisitado...

    Olá amigos, estou de volta ! Demorei eu sei, mas estava trabalhando no novo visual do Brega. E então ???O que acham ? Espero que tenham gostado !
    Como vocês sabem adoro falar de música ! E hoje vou dedicar o post a um assunto muito interessante, o brega que, antes era abominado e que depois de ganhar uma nova roupagem vira cult.
    A fronteira entre o brega e o chique sempre foi tênue na música brasileira. E ja foi motivo até de tese de mestrado, apresentada sob o título de: Brega: Music and Conflict in Urban Brazil. Master of Music thesis, University of Illinois at Urbana-Champaign, EUA, 1987 - seu autor é: Samuel Mello Araujo Jr.     A tese tem como tema a crescente exposição pública a nível nacional, através da chamada grande imprensa, do temo "brega" associado a cantores populares e seus respectivos repertórios. O primeiro capítulo trata da exclusão das maiorias dentro da hierarquia social no Brasil, mostrando que atribuições de bom- ou mau-gosto podem definir o "lugar" de um indivíduo na sociedade, e de como a nossa indústria dos disco pode refletir estes fenômenos, com suas idéias de segmentação do mercado, estratégias de marketing etc. uma importante conclusão aqui é a de que a própria existência de um mercado fonográfico forte no Brasil se deve ao que se rotula como brega.
    O segundo examina os antecedentes da discussão "música das elites" vs. "música popular", "bom-gosto" vs. "mau-gosto" desde o século 18 com o sucesso da modinha, considerada de mau-gosto por alguns escritores da época, nos salões aristocráticos portugueses e chegando ao sucesso de gêneros como o samba-canção, também acusados de serem exageradamente sentimentalistas e baseados em clichês do bolero e da múisca romântica em geral. A partir deste capítulo, a análise de músicas gravadas por artistas representativos passa a ser explorado na tese como recurso constante.
    O terceiro entra no fenômeno do rock irônico dos anos 80, com a Blitz, Ultraje a Rigor e do Eduardo Dusek, fazendo um comentário crítico a uma certa atitude arrogante das elites no campo da música popular, só reconhecendo como válidas as produções do mundo do samba ou da bossa nova. O quarto trata de cantores como Amado Batista e Carlos Santos, que inventam um estilo todo próprio tendo o repertório da Jovem Guarda como uma importante referência. O quinto e o sexto falam da interseção entre gênero tradicionais brasileiros como o samba e a música sertaneja com o universo brega, redundando em gênros rotulados pela mídia como samba-romântico e breganejo.
    A conclusão sugere que, ao contrário do que as elites e a mídia eliitizada procuraram demonstrar, estigmatizando o brega, há um significado social e estético próprio ao universo brega que é riquíssimo e indispensável para que entendamos melhor a formação cultural brasileira.Trata-se de um tipo musical que costuma estar sujeito à críticas e à preconceitos e que na atualidade vem conquistando um enorme espaço na mídia nacional. Mas quais as razões deste preconceito e quais as razões da atual onda de sucesso desta que é chamada também de música de fossa ou de dor de cotovelo?
    Apesar dos preconceitos e resistências, a música brega vem firmando seu espaço. O sucesso de público do irreverente Reginaldo Rossi é reconhecido pela grande mídia nacional. É lançada uma caixa de cds contendo os maiores sucessos bregas que eram tocados no programa do finado Chacrinha (os tropicalistas Gilberto Gil e Caetano Veloso ficaram de fora do projeto, apesar de tocarem no chacrinha e serem fiéis defensores da estética anárquica do famoso comunicador). Artistas considerados bregas até então esquecidos como Wando, Fábio Júnior e Peninha (pegando carona na regravação de Caetano Veloso, quem diria?, para a música Sozinho) voltam à tona.


     Esse era um post que ja estava querendo fazer há muito tempo, mas acabava adiando e tal, então nos momentos de folga, comecei a anotar algumas musicas que lembrava, outras acabei descobrindo por acaso, fora a ajuda de algumas pessoas, como o moço do Bar, o Art. O que trouxe a tona o post pensado a tanto tempo, foi a trilha sonora do filme Lisbela e o prisioneiro. Que novamente traz o Caetano passeando pelas bandas do então dito brega.

    Apesar da música Sozinho ter sido um grande sucesso na voz de Caetano, não é a primeira vez que ele da os ares da graça do lado de lá da linha, seu flerte com o brega é antigo e sua primeira experiência com esse tipo de música data de 1973, quando em maio, marcou presença no evento "Phono 73", promovido pela gravadora Philips no Palácio das Convenções do Anhembi (SP), cantando a canção "Eu vou tirar você deste lugar", de Odair José, cantor considerado brega. Gravou "Sonhos" , também composta por Peninha, e agora para o filme Lisbela e o prisioneiro gravou o hit que era cantando por Fernando Mendes, "Você não me ensinou a te esquecer".
    Ainda na trilha sonora do filme temos Los Hermanos cantando: "Eu vou tirar você deste lugar" e Elza Soares com "Espumas ao vento", composta por Acioly Neto e originalmente gravada por Fagner.
    E como família que canta unida, regrava unida ... Bethania foi quem primeiro se atrveu a atravessar a linha ... Pioneira na absorção do brega (antes mesmo do tropicalismo), com sua gravação do descabelado bolero " Lama" , ainda nos 60. Gravou pérolas como Negue, do perito na matéria, o recém-falecido Adelino Moreira, e vai além, embrenhando-se no pantanoso Gilson de Casinha branca e Seu jeito de amar. Em 1999, registra no cd "A força que nunca seca", o hit "É o amor" , de Zezé de Camargo e Luciano.
    O fato é que muita gente boa já se aventurou pelo lado de lá, ainda nos cantores de MPB, Marisa Monte já gravou "Eu te amo, eu te amo", do Rei e atualmente anda nas rádios com o sucesso "Esqueça", da autoria de Rossini Pinto, e que já pôde ser ouvida na voz de Roberto Carlos e Reginaldo Rossi. Gravou também o clássico "Ontem ao Luar" de Vicente Celestino.Outra pérola que pode ser ouvida na voz de Marisa, foi composta por Renato Barros, e seu nome é : "Você não serve pra mim", que nos últimos tempos foi gravada também pela banda Penélope e pelo Ira !, ambas tocadas de maneira inusitada, com acordes de rock pesado. A galera do Ira! ressucitou também, uma música do Ritchie chamada : "A vida tem dessas coisas".
    A recem descoberta cantora Ana Carolina tem tido suas músicas nas novelas Globais com freqüência, é outra que se arrisca numa boa pelos lados de cá... que atire o primeiro buda espelhado, quem num momento daqueles de uma baita dor de cotovelo, amarrada numa tipóia de filó cor de rosa, não ouviu o clássico "Que será", originalmente interpretado por Dalva de Oliveira. Ai, meu caro leitor, você pode pensar ... mas Dalva de Oliveira, brega ? Não exatamente, mas quem é que tem envergadura moral pra me dizer o contrário, depois de ouvir o verso : " Que será ... da luz difusa do abajour lilás, que nunca mais viera iluminar... outras noites iguais". E não parou por ai , perguntada por um jornalista qual `música brega' ela tocaria em um show. Ela respondeu com a música "Evidências", de José Augusto. Não é o máximo ?
    Bom, esse post está enorme, já, né ??? Então aqui vai uma listinha básica, com músicas que foram revisitadas e seus intépretes:
Chico César - " Sou Rebelde" - (de Leno e Lilian);
Beto Lee - "Fuscão Preto " - ( de Almir Rogério);
Mundo Livre S/A - "Mon amour, meu bem, ma famme" - ( de Reginaldo Rossi);
Adriana Calcanhotto - "Caminhoneiro"," Por isso corro demais" - (de Roberto Carlos) e "Devolva-me" - (de Leno e Lilian);
Los Hermanos - "Eu vou tirar você deste lugar" - (Odair José) para trilha sonora de Lisbela e o Prisioneiro;
Camisa de Vênus - "Negue" - (Adelino Moreira);
Lulu Santos - "Calhambeque" e "Se você pensa" - ( Roberto Carlos);
Elza Soares - "Espumas ao vento" - (composta por Accioly Neto e interpretada originalmente por Fagner);
Ed Motta - "Bem simples" - (Roupa Nova).
    Apesar dos preconceitos e resistências, a música brega vem firmando seu espaço. O sucesso de público do irreverente Reginaldo Rossi é reconhecido pela grande mídia nacional. É lançada uma caixa de cds contendo os maiores sucessos bregas que eram tocados no programa do finado Chacrinha (os tropicalistas Gilberto Gil e Caetano Veloso ficaram de fora do projeto, apesar de tocarem no chacrinha e serem fiéis defensores da estética anárquica do famoso comunicador). Artistas considerados bregas até então esquecidos como Wando, Fábio Júnior e Peninha (pegando carona na regravação de Caetano Veloso, quem diria?, para a música Sozinho) voltam à tona.
    E a razão de todo este sucesso? Há na estética brega algo como que uma inversão proposital e anárquica de valores, muito bem sintetizada pela frase, proferida pelo humorista e cantor Falcão, "quanto pior, melhor". O que é valorizado é justamente a falta de sofisticação, a simplicidade. Assim como aconteceu no cinema com os chamados filmes "trash ", produções de terror feitas com precários recursos técnicos e que foram elevados à condição de " cult". O critério de avaliação estética é, então, subvertido.
    Há também a predisposição natural da cultura brasileira a tudo aquilo que seja bizarro, grotesco e humorístico. O brasileiro gosta de rir. Rir de si próprio. Sobretudo quando está em estado de embriaguês evidente, numa mesa de bar, ouvindo "Garçom", maior "hit" da música brega.O fato de beber para ouvir é no mínimo intrigante. A irreverência da música parece não ser captada em sua totalidade no estado normal de consciência. soma-se então ao corno, o bêbado, principais elementos da mitologia brega.
    É isso aí galera, vou ficando por aqui cantarolando minhas músicas, para encarar com bom humor a semana que ta começando. Então uma ótima semana pra vocês !
    Beijos e até a próxima !